Emerson do Amaral
Antônio Ermírio defendia o investimento e a produção industrial
Líder de um império com 96 empresas, fundado pelo pai na cidade de Votorantim (SP), ele ganhou notoriedade pelos ideais nacionalistas, por defender o investimento e a produção industrial e pelo jeito espartano com que levava a vida.
Trabalho, para ele, era uma religião. Em entrevistas, dizia querer trabalhar até o dia de sua morte. Problemas de saúde, no entanto, o tiraram do dia a dia dos negócios no início dos anos 2000 e, definitivamente, em 2008. Formado em Engenharia de Metalurgia na Colorado School of Mines, começou a trabalhar na empresa da família quando voltou dos Estados Unidos nos anos 40. Expandiu os negócios e no início da década passada iniciou a profissionalização das empresas do grupo, compartilhando o comando entre filhos e sobrinhos.
O conglomerado que ajudou a construir faturou R$ 31,3 bilhões no ano passado e tem 43 mil funcionários em mais de 20 países, mas Antônio Ermírio relutou à internacionalização. Por anos, criticou as multinacionais e dizia que, no dia em que investisse em outro país, deixaria de ser brasileiro. Ele mostrava-se constantemente preocupado com o rumo do País e com a ausência de uma política industrial. Reclamava dos juros e acusava o governo de privilegiar o setor financeiro em detrimento da indústria e do comércio.
O empresário também se dedicou à filantropia. Abraçou a área da saúde por meio de atividades à frente da Cruz Vermelha. Depois, assumiu o hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo, um dos maiores do País. Ele escreveu três peças tratando dos temas saúde, educação e a relação de dependência das empresas em relação aos bancos. Em 1986, foi candidato ao governo do Estado pelo PTB mas perdeu a disputa para Orestes Quércia.
Modelo
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) emitiu nota lamentando o falecimento do empresário, citado como “modelo de industrial e de cidadão pelas ações em favor do desenvolvimento e da redemocratização do País”. A presidente Dilma Rousseff afirmou que ele foi um líder nato e que sempre acreditou no desenvolvimento do Brasil.
O empresário teve nove filhos. Ontem, no velório, a filha Regina disse que o maior legado para a família foi a humildade. “Durante muitos anos, ele andou de Santana. Só no fim da vida, se deu ao luxo de ir para a praia de helicóptero. E, nesse trajeto, pedia para o piloto passar na fábrica”.
O Grupo Votorantim completou 95 anos, em 2013. Está presente nos segmentos de cimentos, metais, siderurgia, energia, celulose e agroindústria, além do mercado financeiro.
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