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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Naldo da Silva, 23, é o pseudônimo por trás do perfil @pintanalense

 
Matéria do Novo Jornal:
 
Boy Naldinho é um sujeito difícil de encontrar. Para reportagem entrevistá-lo teve de se valer de contatos no submundo natalense, conquistar a confiança de moradores do bairro do Guarapes – onde vive – e esperar dias para conseguir o contato telefônico. Na primeira ligação, Naldinho não hesitou: “Como você me descobriu? Quem foi o delator?”, quis saber. Conformado com a obrigação jornalística de manter o sigilo da fonte e com as negativas do repórter, Naldinho cedeu e decidiu falar a esse periódico.
Naldinho, ou Naldo da Silva, 23, é o pseudônimo por trás do perfil @pintanalense. Sucesso na internet com frases, gírias e tiradas do mundo pinta, o perfil já arregimentou mais de 20 mil seguidores em pouco mais de três meses de existência, esteve por duas vezes nos assuntos mais comentados do Twitter, teve uma música gravada pela banda Graffith especialmente para o perfil e, por fim, conquista corações da mulherada rede social afora. Atualmente, prepara a festa de lançamento do seu site.
O Pinta Natalense é o maior fenômeno recente da internet potiguar. Com tiradas que inclui frases como: “keria mandá um #alo pra galera da pelada do peixinho! só tem perna di pau lá, vum! #derochamermo” ou “Boy noite pra vc que vai cume o pão com ovo di cada dia”, o perfil se caracteriza por mostrar uma faceta da sociedade potiguar marginalizada, mas muito conhecida. O pinta é responsável, ainda, por renovar – no léxico do potiguês – termos como “Roçoio”, “Greagem”, “De rocha mermo”. O sucesso se vale da identificação que cada natalense tem com a cultura pinta local. “Todo mundo tem um pouco de pinta no sangue”, arremata.
O sucesso rápido e instantâneo atraiu a atenção da mulherada. Naldinho conta que diariamente recebe convites, mensagens de amor de muitas que se impressionam com a sagacidade das tiradas do pinta natalense na rede. Uma delas, ele conta, já chegou a oferecer R$ 50 para que ela a encontrasse. Outra, em um caso mais emblemático, enviou-lhe uma mensagem que dizia: “Você sabe que toda patricinha adora um vagabundo, né?”. Naldinho não as ilude, diz que é desdentado, feio e que gosta mesmo é de Claudete Bubassauro. Mas elas insistem. Ele cita o cantor de brega Falcão para explicar o fenômeno: “é porque eu sou feio que eu sou lindo, imagine se eu não fosse”.
Em entrevista exclusiva dada ao NOVO JORNAL, o Pinta Natalense comenta o sucesso, fala como está a cena pinta local e da importância da banda Graffith para essa cultura. E não hesita, quando perguntado sobre o que é ser pinta: “Uma arte! Porque para viver o que a gente vive, fazer o que a gente faz, tem que ser muito artista mesmo, tem que fazer da vida uma obra de arte”.

1 – Como é fazer o sucesso na internet, você se considera uma celebridade?

Sucesso entre a galera que usa o twitter no RN, sim! Mas tudo tem prazo de validade, por mais que a comida seja boa! Uma feijoada, por exemplo, ela só é boa se for feita no dia que for comer. No twitter é assim também, os “sucessos” duram pouco, basta ver os trendstopics, assuntos que aparecem por algumas horas como os mais comentados e depois ficam como os mais esquecidos, porque sempre tem outros. Eu não sou uma celebridade, só um twitter conhecido mesmo!

2 – Como está a cena pinta ultimamente? Ainda existe muito pinta em Natal?

Pinta é como cearense, tem em todo canto! Os mano em sampa, os velau no ceará, os pinta aqui no RN: tem muito pinta em tudo que é canto, e sempre eles estão se renovando, tanto na linguaguem quanto nos habitos, é um estilo de vida das periferias e tá entranhado nos costumes de muita gente, de Natal também.

3 – Em Natal, todo mundo tem um pouco de pinta?

Quem foi boy nos anos 1990, inicio dos 2000, e teve a chance de ainda brincar nas ruas, seja jogando biloca, soltando pipa ou brincando nos fliperama na rodoviária velha ou ali em frente a Cadetral Nova, teve contato com algum pinta, seja o do bem ou o do mal. Porque você tá ligado que quando eu jogo no Twitter um lance de Natal das antigas, que os pintas falavam, todo mundo se identifica, porque conviveu um pouco com isso! As culturas eram misturadas porque era todo mundo junto e misturado, hoje o Twitter tá separando a galera, porque ficam em casa, mas tá juntando também, é só ver quem segue o
@pintanatalense.

4 – Quais são as suas referências?

No twitter? Eu curto muito ver as tuitadas de @SilvinhoDiva,
@Brega_Falcao, @SeuLunga e o playboy vaqueiro de Natal @gadelhajunio, apesar de eu não gostar de playboy do estilo de Gadelha, ele é invocado apesar de amostrado!

5 – Qual a relação da cultura pinta com a banda Grafith em Natal?

Desde que a Banda Grafith foi criada, e começou a tocar músicas de reggae entre outros estilos, que os pintas se identificaram com eles. A nação pinta que viveu os anos dourados do “go pato” sabe do que eu estou falando! Hoje o Grafith vai mais além de só atingir os pintas, não é à toa que eles vivem tocando fora e fazendo sucesso para além do público pinta, com vários tipos de música. A galera fala que no show deles tem briga, mas no show do Chiclete também tem. O que muda é o
público, mas o roçôio é o mesmo. Mas tá ligado né, o Grafith é a trilha sonora da minha vida, música do povão, da galera gréiosa! O Grafith nunca deixou de ser falado, de ser tendência! Sou fã dos caras, e sou mais ainda porque eles vão tocar a música que Robson Sêmog fez para mim, chamada “PintaNatalense”.

6 – As pessoas se identificam com você, boy Naldinho?

Eu acho que se identificam mais com minhas ideias que comigo,
sinceramente. Eu não acredito que os playboys se identifiquem comigo, por exemplo, mas com minhas ideias, com as brincadeiras que faço; talvez os boy mais novos queiram viver um estilo de vida como o meu, mas isso é passageiro. Ou não. O que importa é que a identificação seja boa, porque de identificação ruim já tem de ruma por aí!

7 – Ser pinta é?

Uma arte! Porque para viver o que a gente vive, fazer o que a gente faz, tem que ser muito artista mesmo, tem que fazer da vida uma obra de arte, se desdobrando, inventando o que fazer, senão a gente num sai do lugar. É assim comigo e com os outros que tem um estilo de vida como o meu e quer se virar como pode! Temos nosso estilo escroto e
vida louca, tá ligado, e ser pinta é daquele jeito! Tem gente que tem preconceito, mas é preconceito com uma galera que é do mal. Mas como disse noutros lugares já, tem gente do mal e do bem em tudo que é canto… É tão certo dizer todo político é ladrão quanto dizer que todo pinta é marginal! Então, tem que se ligar para não cair no estigma nem nas generalizações!

8 – Quem, afinal, está por trás do pinta natalense?

Sou eu mesmo, Naldo da Silva, sempre na humildade e gréiação! Levando a vida como dá, e inventando as virações como pode!

9 – O que você acha dessa repercussão do pinta na cidade?

É irado, porque acaba resgatando uma cultura da periferia daqui, e levando para lugares até então nunca almejados. Já vi altas paty e playba falando “derochamermo”, “roçôio”, “gréiação”, e isso é bom porque a galera tá usando gírias novas e que são gréiosas, né? Que isso vai passar, todo mundo sabe, mas de tudo fica um pouco, já dizia boy Drummond.

10 – Como é o assédio das mulherada com o pinta natalense?

As boyzinha ficam tudo ouriçadas querendo saber quem sou, dizendo que não importa quantos dentes eu tenha na boca, mas quantos neurônios eu tenho na cabeça, essas gréiações. Ainda bem que, como diz o filósofo
Falcão, “é porque eu sou feio que eu sou lindo, imagine se eu não fosse” eu sou feio, porque se eu fosse bonito, os boy iam ficar putos comigo, porque não ia sobrar nem Claudete Bubassauro pra ele.

Vida Real

O sujeito por trás de Boy Naldinho, ou do Pinta Natalense, não se parece com um pinta. Não mora no Guarapes e nem é apaixonado por Claudete Bubassauro. Tem 23 anos. Ele só aceitou dar entrevista se nenhum detalhe da sua vida fosse revelado. Ele não será identificado na matéria. A ideia de criar o pinta, segundo o autor, partiu da inspiração de outro perfil fake o “@gadelhajunio” que é uma sátira aos playboys natalenses. “Pensei, se há o playboy, tem que ter o pinta”, disse. A inspiração das tiradas veio da infância: “Sou de uma época que todo mundo brincava na rua e fiz amizades com muitos pintas. Peguei muito da cultura deles”.
Uma história do Pinta Natalense foi escrita e personagens desenvolvidos, antes que o perfil fosse ao ar. Claudete Bubassauro, Boy Fimose, Boy Piolho e Boy Enlatado. O perfil foi lançado no dia três de abril e tinha como meta atingir os mil seguidores. Conseguiu mais: bateu em 20 vezes a meta inicial e hoje é um dos perfis com mais seguidores em Natal. O sucesso fez com que muitos quisessem saber a verdadeira identidade do pinta natalense. “Não vou revelar porque tira toda a graça. Uma das melhores coisas no perfil é o fato de que ninguém sabe quem o atualiza”, disse.
O sucesso do perfil atraiu empresas interessadas em anunciar produtos e até casas de shows que queriam anunciar as festas. Todos eles receberam uma resposta negativa do verdadeiro autor. “Não fiz esse perfil para ser comercializado. Acho que isso é contrário ao que é o pinta. A ideia é não comercializar. Se vender, perde a magia”, disse. A única proposta que aceitou foi da banda Graffith. No dia 29 de julho, ele prepara, junto com a banda, uma festa no Imirá Plaza para lançamento da música oficial do Pinta Natalense e de um site oficial do perfil. “Aceitei porque tem a ver com o pinta. Mas não vou ganhar nenhum dinheiro com isso, só as senhas que vou dar para os meus amigos”.
Uma das coisas que mais agradam o autor é ver o quanto o perfil repercute na cidade. As gírias que ele ressuscitou e a forma de falar do pinta natalense se espalharam na cidade. “É engraçado quando eu vejo as pessoas falando “roçoio” ou “de rocha mermo” e comentando sobre o pinta natalense”, disse.
O autor conta que as ideias surgem espontaneamente. Uma delas, a mais famosa, foi a do #pintanatalenseday. Na sexta-feira dia oito de julho ele decidiu lançar a tag uma semana antes para ver no que dava. Conseguiu alcançar os assuntos mais comentados no Twitter e o perfil foi citado no portal G1. “Já tinha conseguido entrar nos tópicos mais comentados com #Roçoio  e quis tentar com uma nova tag. Felizmente, deu certo”. No #pintanatalenseday – que era o dia do aniversário do autor – as rádios mandaram parabéns para o perfil e o Graffith soltou na internet uma música em homenagem ao perfil. “Teve uma repercussão muito boa”, diz.
Para conversar com os fãs, o autor criou uma conta no MSN Messenger, que tem mais de 100 contatos. Diariamente ele entra e interage com as pessoas que o adicionam. A maioria, segundo o autor, são mulheres que sonham em descobrir a real identidade do pinta. “Se eu quisesse, tava pegando muita mulher agora”, brinca. Segundo o autor, elas gostam desse caráter de malandro e de vagabundo que o pinta natalense tem, fora do humor que é inerente a ele.
O autor agora planeja um site, com blogs para cada personagem, além de uma tuitenovela. “A ideia é que aqueles que não têm perfil no twitter possam acompanhar o pinta natalense de alguma forma”. Outra ideia foi a criação do horóscopo pinta: com frases aleatórias envolvendo os signos, ele cria um horóscopo humorístico que é um dos seus mais novos sucessos. “O negocio foi brincar com o caráter randômico do horóscopo e ultimamente vem fazendo sucesso”.
Atualmente, o pinta natalense tem uma média de 30 retuítes – replicações do conteúdo – por cada mensagem que posta. O impacto do que ele escreve pode chegar a mais de 100 mil pessoas, dependendo de quanto o conteúdo é replicado pela rede social.

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